A Riqueza da Doçaria Pernambucana:
Pernambuco é terra de muitos encantos, e entre eles está a doçaria, uma herança que atravessa séculos e se mantém viva nos engenhos, mercados e confeitarias do estado. A doçaria pernambucana é fruto do encontro entre a cultura dos povos indígenas, africanos e europeus, traduzindo-se em receitas que carregam tradição e história, além de um sabor inconfundível.
O açúcar, protagonista dessa história, foi chamado por Gilberto Freyre de "ouro branco" e desempenhou um papel crucial na formação econômica e cultural do Nordeste. Em sua obra "Açúcar: uma sociologia do doce, com receitas de bolos e sorvetes tradicionais", Freyre ressalta que os engenhos não eram apenas locais de produção, mas verdadeiros centros de cultura e sociabilidade. Foi ali que nasceram muitas das iguarias que hoje representam a doçaria pernambucana.
Entre os doces mais emblemáticos está o bolo de rolo, um símbolo gastronômico do estado. Derivado do pão de ló português, ele foi adaptado ao paladar local com a substituição de recheios tradicionais por camadas finíssimas de massa e goiabada, formando um espiral delicado e irresistível. Outro clássico é a cartola, que combina banana frita, queijo manteiga, açúcar e canela, criando um contraste de texturas e sabores que encanta qualquer apreciador da boa mesa.
A influência portuguesa também se manifesta em doces como o alfenim, uma escultura de açúcar moldada com delicadeza e habilidade, e as queijadinhas, que trazem a doçura do coco e a maciez do queijo. Já o mungunzá, feito de milho branco cozido com leite e açúcar, tem origens indígenas e ganhou versões diversas ao longo do tempo, sendo presença garantida nas festividades juninas.
Outro destaque é o Souza Leão, um bolo de textura macia feito à base de mandioca, leite de coco e manteiga, que remete aos tempos dos grandes engenhos e foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial de Pernambuco. Sua receita, transmitida de geração em geração, mantém viva a memória afetiva de muitas famílias pernambucanas.
A doçaria pernambucana vai além do sabor; ela carrega histórias, afetos e tradições que atravessam gerações. Entre receitas familiares e quituteiras de feiras e mercados, cada doce tem uma narrativa própria, conectando passado e presente em cada colherada. Como bem dizia Gilberto Freyre, a culinária nordestina não é apenas um conjunto de pratos, mas uma expressão da identidade de um povo. E os doces de Pernambuco são, sem dúvida, um testemunho doce dessa rica identidade cultural.